NOTA HISTÓRICO-ARTÍSTICA

O Santuário de Nossa Senhora de Aires, local de fé e peregrinação, é um dos mais interessantes e monumentais edifícios do barroco alentejano do século XVIII. Local de profunda devoção dos peregrinos, que ali acorriam para cumprimento, no Outono. Devido à afluência de gente que aí se dirigia para o cumprimento de votos e novenas a Nossa Senhora de Aires, o Senado Vianense obteve de D. José I o alvará de 27 Setembro de 1751, assinado pelo Marquês do Pombal, instituindo a feira franca de Nossa Senhora de Aires. Isto levou à intenção de substituir o antigo templo quinhentista por um mais grandioso. O arcebispo D. Frei Miguel de Távora aprovou a planta e iniciou-se a construção em Julho de 1743. A bênção e a inauguração solene tiveram lugar em 15 de Março de 1760, com a igreja incompleta. As obras só terminaram em 1804, tendo-se realizado a segunda sagração a 13 de Maio desse ano. De risco pertencente ao Padre João Baptista, oratoriano de Estremoz, manifesta aspectos evocativos das estruturas mafrenses, com grande efeito cenográfico, na estrutura de muros, duas torres na fachada rematadas por cúpulas bolbosas e um zimbório octogonal com cúpula com lanternim. O portal de entrada da igreja, datado de 1755, é uma elaborada peça rococó com decoração esculpida em elementos fitomóficos e enquadra uma dedicatória em latim a Nossa Senhora.

O templo possui nártex e planta em cruz latina, uma nave de três tramos separados por pilastras em trompe l’oeil, coberta por abóbada de volta inteira, e capela-mor de planta circular, elevada por quatro arcos com cornijas assentes em colunas de mármore Verde de Viana. O templo é decorado, em grande parte, por campanhas já do século XIX, constituídas por pintura mural, estuques policromados, azulejaria, mármores e talha dourada, que proporciona um conjunto monumental com carácter intimamente festivo. Pela sua imponência e aparato, o elemento que mais se destaca é o enorme baldaquino rococó em talha dourada sob o zimbório, que cobre o trono e os quatro altares orientados para cada um dos arcos da capela-mor, formando retábulos em formato de ilha. O risco do baldaquino é provável que seja da autoria do Padre João Baptista, responsável pelo projecto da igreja. A execução ficou a cargo do mestre entalhador João de Almeida Negrão, através de contrato datado de 1757. Sob o baldaquino, uma maquineta envidraçada alberga a imagem de N.ª S.ª de Aires (uma representação de uma Pietá) em pedra de Ançã, policromada, do século XV. A sacristia, revestida de pinturas neoclássicas pombalinas, possui planta otogonal e a sua construção terá tido início em 1743.